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sábado, 8 de abril de 2017

Hipnose pela fé:

Hipnose pela fé:

Quando tudo tem explicação para quem quer entender.


Em qualquer culto religioso, todas as sensações que aparentam transcendência, podem ser explicadas com uma única palavra: “HIPNOSE”.
Falar em línguas, incorporar Santos, possessões demoníacas, resposta de orações, sentir a presença de Deus, cair, pular, girar, psicografar, chorar. Para muitos religiosos que passaram por uma experiência de transcendência espiritual, tudo isso parece muito real.
Mas o motivo de tudo isso pode ser descrito em uma palavra: hipnose!
Não falaremos aqui sobre a hipnose de palco. Não se trata, portanto, de uma a análise do trabalho de Fabio Puentes ou Derren Brown – se realmente hipnotizam pessoas, fazendo-as agir da forma como estes hipnotizadores querem que façam. Trataremos da hipnose corroborada pela comunidade científica e que é bastante comum em cultos ou rituais religiosos.
“Hipnose é um procedimento no qual um profissional sugere que a pessoa experimente mudanças em sensações, percepções, pensamentos ou comportamentos.”
Associação Americana de Psicologia
Visto a citação acima, responda: onde mais acontecem estas mudanças de sensações, percepções, pensamentos ou comportamentos?
Igrejas? Centros Espíritas? Seitas e rituais de maneira geral?
Quando eu estava na pré-puberdade, pude vivenciar minha mãe falando em línguas na igreja católica. Mais tarde na igreja evangélica, durante o culto, observava pessoas pulando, gritando, rodando e caindo com um simples toque do líder religioso. Vivenciei no centro de umbanda um Santo tomando posse do corpo de uma mulher, fazendo-a falar com a voz alterada e uma postura descomunal. Num centro espírita Kardecista, presenciei médiuns vendo espíritos, psicografando e canalizando.
Ao final de qualquer culto, independentemente de qual Deus ou autoridade sobrenatural se comunicava, a sensação dos fiéis era a mesma – uma experiência única e utópica, acompanhada de bem estar, alivio intenso e sentimento de renovação.
“Deus agiu esta noite”, “Deus não se prova, mas se sente”, “Deus esteve presente”.
Mas, será?
Na busca de explicação para os “fenômenos” do sobrenatural, como no livro “Racional: A visão da descrença”, as causas dos mesmos são explicadas pela neurociência, pela psicologia e pela psiquiatria (que, apesar de não ser considerada exatamente uma ciência, faz uso de técnicas baseadas na ciência).
O ESTADO DE TRANSE OU DE ALTA CONCENTRAÇÃO
Antes de começarmos, o primeiro tema a ser tratado é o que chamaremos de “estado de transe”. Quero deixar claro que a semântica da palavra não importará, mas sim a intenção didática da analogia que farei uso, visando simplificar a compreensão de como a hipnose está presente nas instituições religiosas de forma geral.
O estado de transe fará alusão ao foco excessivo, à atenção extrema que faz o sujeito suscetível a sugestões. Não entendeu? Vou simplificar:
Todos nós entramos e saímos do estado de transe o tempo todo. É simplesmente um estado de foco natural: quando nos sentamos em frente ao PC para ficar quinze minutos e não vemos que passam as horas; quando, ao estar dirigindo, damo-nos conta que estamos chegando ao destino, tendo a impressão de não ter notado nada do caminho percorrido; quando nos apaixonamos e não conseguimos ver ou pensar em mais nada (e soltamos um clichê: “estou hipnotizado”). Basicamente o estado de transe acontece quando o consciente “perde” o controle para o inconsciente, suprimindo as tentativas de confirmar as informações vindas dos sentidos. Tudo passa despercebido, inclusive sugestões, já que o senso crítico baixa e o cérebro aceita-as achando que “ele” quem está decidindo.
O transe pode ser dado por qualquer coisa que prenda o foco – imagem, som, cheiro, objeto de pensamento, etc. – e os efeitos fisiológicos incluem relaxamento total, sensação de conforto, experiência positiva e agradável.
Antigamente, acreditava-se que a hipnose era um estado de sono (daí se originou o seu nome, já que hypnos, na mitologia grega, era o Deus do sono), mas na verdade a hipnose está mais para um estado de alta concentração.
Aliás, já adianto que, mais à frente, quando fizer uso da palavra “igreja” e “pastores”, entendam que me refiro não exclusivamente a estes, mas a toda instituição e líderes que fundamentem o sobrenatural.
O que demonstrarei não faz alusão aos pastores como bons hipnólogos (isto depende), mas as influências do ambiente, da crença e outros fatores que geram o estado hipnótico.
“Tudo o que precisamos fazer é ajudar as pessoas a se moverem de um transe negativo para um transe positivo.”Milton Erickson (criador da hipnose Ericksoniana)
Erickson afirmava, que o objetivo da hipnose era ajudar as pessoas a irem do transe negativo para o transe positivo, através de várias estratégias que demonstrarei neste texto. O transe negativo refere-se sempre a algum sintoma impregnado na mente das pessoas, enquanto o transe positivo (o qual se tenta induzir), à cura.

SINTOMA

CURA
 Rejeições
Culpa por ter pecado
Tentações
Expectativa de Falha
Problemas
Ameaça e sofrimento
Experiências negativas
 Importante pra Deus
Deus me perdoa
Deus me entende
Pressuposições de saúde
Soluções
Bem-estar e poder
Deus tem um plano
O transe refere-se ao estado de alta concentração. Imagine, portanto, o transe o estado de oração: fecham-se os olhos, ouvem-se as pessoas ao redor, o pastor ao microfone, a música e tudo o mais, enquanto foca-se veemente em conversar com Deus. As sugestões são dadas por outros fatores que veremos adiante, e o transe junto às sugestões acarreta um “loop hipnótico”. Ao fim do artigo, tentarei esclarecer porque as pessoas falam em línguas, pulam, caem, giram e extasiam-se a ponto de crer que suas sensações provam suas crenças.
O LOOP HIPNÓTICO – “PAI” DO DELÍRIO
Para que o transe positivo (a “cura”) seja induzida, existem requisitos obrigatórios, e a estes darei o nome de “loop hipnótico”. Ele é essencial para que a hipnose funcione e altere as percepções sensoriais de realidade, aprofundando a fé.
O primeiro requerimento para adentrar a transe é a CRENÇA. A crença condiciona o cérebro, gerando o segundo requerimento, a EXPECTATIVA. A expectativa “ativa” imediatamente o terceiro requisito, que proporcionará ao transe as sensações fisiológicas propícias ao que a pessoa crê, a IMAGINAÇÃO. A imaginação, portanto, gera as sensações NEUROFISIOLÓGICAS, requisito este que reforça a crença e gera a EXPERIÊNCIA.
Crença > Expectativa > Imaginação > Neurofisiologia > Experiência > Crença > etc.
Agora vou aplicar o loop hipnótico em um centro de Umbanda que comumente o “santo baixa” nos fiéis. Mas antes cabe explicar uma das maiores descobertas da neurociência, o NEURÔNIO-ESPELHO. Não me aprofundarei neste assunto, mas resumirei o porquê deste neurônio ter sido essencial para nossa sobrevivência como espécie: nossos ancestrais dependeram de sua capacidade de se socializar para sobreviver (criando grupos/ comunidades). O neurônio-espelho é responsável pela adaptação de nosso comportamento em grupo. Ao adentrarmos uma comunidade, tendemos a falar e agir como eles. O neurônio-espelho favorece que as adaptações ocorram de forma natural.
Um exemplo é uma pesquisa realizada em 1971 na Universidade de Stanford, sob a coordenação de Philip Zimbardo. Foram selecionados 24 universitários do sexo masculino e o objetivo da pesquisa era simular uma prisão durante duas semanas. Por sorteio, metade dos sujeitos foi selecionada a serem guardas e a outra metade prisioneiros. Contudo, após seis dias de experimento a pesquisa teve que ser cancelada, já que a maioria dos participantes incorporaram os papeis que lhes foram designados, perdendo a distinção entre realidade e ficção. Isso fez, por exemplo, com que a violência e crueldade irrompessem de forma descontrolada na relação dos guardas para com os prisioneiros, e que muitos destes apresentassem imensas perturbações emocionais. Essa pesquisa acabou se tornando um experimento demonstrativo de que nos adaptamos de forma automática, mesmo em situações contra a vontade própria.

Sabe aquele vídeo bonitinho que seu amigo postou? Aquele, de uma criança de três anos de idade, na igreja orando, levantando as mãos, fazendo gestos e caras? Bom, aquilo não significa nada. É apenas o neurônio-espelho da criança agindo, fazendo-a imitar os gestos e comportamentos que lhe são comuns culturalmente. O neurônio-espelho providenciará que esta criança cresça e tenha seu comportamento influenciado pelos grupos que frequenta . Lembra-se daquele clichê, “diga-me com quem andas e te direi que és”?
Agora que você sabe como funciona o neurônio-espelho, voltemos ao centro de Umbanda onde comumente o “santo baixa”. Os frequentadores do centro acreditam no que seguem, certo?
Se acreditam, então geram uma expectativa sobre aquilo (seja em forma de vontade ou medo). O cérebro já conhece os comportamentos, gestos, tom de voz e postura que uma pessoa com o “santo no corpo” expressa, e “grava” estas informações no inconsciente. Em um transe (ritual para chamar o santo) recheado de sugestões para aprofundá-lo (música e outras que explicarei adiante), dá-se inicio a imaginação que logo induz as sensações neurofisiológicas (“o santo baixou”) e finalmente gera a experiência que reforça a fé.
Agora vou aplicar o loop hipnótico com o fenômeno da glossolalia (falar em línguas) e depois você mesmo pode aplicar o loop em qualquer “fenômeno sobrenatural”. Vamos lá:
  • O primeiro requerimento para adentrar a transe é a CRENÇA:
    “Na igreja que frequento as pessoas falam em línguas.”
  • A crença condiciona o cérebro gerando o segundo requerimento, a EXPECTATIVA:
    “Acho tão bonito falar em línguas, gostaria tanto de conseguir falar.”
    * Um detalhe: a pessoa observa o fenômeno e aquilo só acontecerá com ela se ela acreditar (falar que não acredita, mas ter medo ou receio, ainda é acreditar…)
  • A expectativa ativa imediatamente o terceiro requisito, que proporcionará ao transe as SENSAÇÕES NEUROFISIOLÓGICAS propícias ao que a pessoa crê, através da IMAGINAÇÃO:
    *Aqui o inconsciente, que já tem conhecimento sobre o fenômeno que se viu e se esperou, já está condicionado e o reproduz através da imaginação (a grande arma da hipnose).
  • A imaginação propicia um estado alterado de consciência, que gera a transe por dissociação mental. Ou seja, a mente opera em dissociação – uma parte “sonha” e vivencia, enquanto a outra permanece conectada ao mundo externo. Esse estado passa a ser vivido como realidade, reforçando cada vez mais o loop hipnótico, ad infinitum.
É exatamente por causa da imaginação que a pessoa que fala em línguas na igreja católica, não as falaria no candomblé. O santo que baixa na umbanda, não baixa na católica. O demônio que toma posse na igreja evangélica, não toma posse do presidente dos EUA e autoriza um ataque nuclear. (Eu não podia perder a piada – há!)
Quem experimenta um transe hipnótico na igreja, experimenta uma realidade vívida e profunda com seus sistemas imaginativos. Em outras palavras, a pessoa acredita, imagina – e aquilo que imaginou, torna-se real. Ao contrário do que muitos pensam, a hipnose não é um controle de mente, mas uma influência dela.
Enquanto o sujeito está em transe (orando) recebe mensagens que o ajudam a aprofundar o transe e induzir o cérebro ao que a neurociência chama de auto-resposta, uma resposta à oração: “Deus irá te proporcionar  aquilo que você está buscando,! Ele conhece sua batalha, e aquele que busca no Senhor não será desamparado!”. Observem que a sugestão é genérica. Como cito em meu livro “Racional”, esta sugestão é conhecida por proporcionar o “efeito Forer”; em outras palavras, a sugestão do pastor de que Deus irá proporcionar o que a pessoa está buscando, e que parece ser exatamente para o sujeito que a está ouvindo, é interpretada por todos os sujeitos em transe (orando) como dirigida a cada um deles, mesmo que estejam se concentrando em objetivos diferentes. Desta forma, o sujeito que está buscando melhora na vida amorosa ou profissional, na saúde, na pretensão futura, achará imediatamente que a mensagem dada inconscientemente é a resposta de Deus para sua oração. Agora o sintoma – “não posso, não mereço, não devo, não consigo” – transforma-se em – “você pode, você consegue, você merece, Deus está com você, Deus proporcionará” – dando a impressão de estar sendo respondido pelo próprio “Senhor do universo”.
Lembro-me de um experimento em que uma goteira pingava na testa do sujeito durante a fase de sonhos mais intensos e vívidos, a fase do sono REM. Estancaram a goteira e, logo em seguida, acordaram o sujeito, que ao ser questionado, afirmou estar, em seu sonho, se afogando em uma cachoeira. Isso demonstra o poder de figuração do cérebro durante um estado de transe profundo. Para uma sensação “x”, é produzida uma imagem “y” que a representa.
Imagine o sujeito que estava orando e que deseja que Deus o toque. De repente, o pastor encosta as mãos em sua testa e o empurra. O sujeito deixa-se cair e o restante fica ao poder de figuração da sua própria imaginação.

COMO A MENTE CRIA TUDO ISSO?
A hipnose aplicada em clínica possui um feedback que diverge de pessoa para pessoa. Algumas descrevem a experiência como um estado alterado de consciência, já outras como um estado normal de alta atenção, no qual se sentem muito calmas ou relaxadas. As pessoas dentro da igreja almejam algo que vem do sobrenatural, seja esse algo uma cura, o reconhecimento de um agradecimento ou a resposta a uma súplica. Assim, descrevem a experiência não como um estado alterado de suas consciências, mas como um estado normal, já que para elas os “fenômenos” presenciados na igreja são ocorrências comuns.
Mas como a mente funciona e como a imaginação é capaz de criar a realidade?
Há alguns anos atrás fui diagnosticado com síndrome do pânico e os primeiros sintomas sempre estavam ligados aos sintomas do infarto – braço esquerdo dormente e dor forte no peito. Isto ocorria porque, ao achar que estava morrendo, eu imaginava que ia ter um infarto, e conhecendo os sintomas, inconscientemente minha mente – associada à minha crença de que poderia ter um infarto + expectativa (medo) de tê-lo – produzia-os. Estas “associações desassociadas”, como costumo chama-las, são comuns e me permitem afirmar que a convicção de achar-se doente “conduz” a doença, bem como a convicção da cura pode levar à cura.
Abaixo alguns requerimentos para que as sugestões funcionem na mente:
1 – Autoridade
Na hipnose terapêutica é necessário que o sujeito acredite e colabore com a autoridade que está aplicando a técnica. Já nas igrejas, a indução ao loop hipnótico é mais fácil, já que a expectativa é firmada não somente na autoridade que está à frente do culto religioso, mas no próprio Deus. Neste caso, ainda que o sujeito tenha algum senso crítico relacionado ao seu pastor, ele carece da crítica para com Deus;
2 – Música
Algumas cerimônias constituem uma série de estímulos auditivos, obtidos com tambores, flautas, sinos e cordas. Desta forma, os participantes entregam-se a uma frenética dança giratória, chegando à dissociação do consciente (mantendo-se conscientes, mas com o corpo controlado pela mente inconsciente), produzindo histeria, gritos, saltos ou gestos que que lhes parece culturalmente normal. Todos conhecem os poderes da música, não?
3 – Técnicas
Percebam que estou falando de métodos que funcionam à indução, mas que não necessariamente sejam conscientemente empregadas pelo executante das técnicas. Em outras palavras, o pastor que “prega” eficiente muitas vezes o faz por saber da efetividade de fazer daquela forma, mas não necessariamente saiba como aquilo funciona.
Ainda não ficou claro? Imagine que um “bom” pastor tenha tom de voz, ritmo de fala e de respiração, olhar e postura corporal adequados a um hipnotizador. Portanto seria o pastor um hipnólogo? Talvez não. Ele somente considera-se  e é considerado e um pastor eficiente. Inconscientemente sabe prender o foco das pessoas. Apenas!
Claro que existem casos específicos de pastores hipnotistas profissionais que sabem, por exemplo, que uma vez que um feito hipnótico é realizado com sucesso, o resto da plateia se torna muito mais suscetível. Desta forma o pastor pode conseguir um fenômeno conhecido como histeria em massa (uma igreja “pegando fogo”).
4 – Sugestão de mudanças
Para se conseguir a transe de forma mais fácil/rápida, pode-se adotar medidas drásticas arraigadas à doutrina, sugerindo mudança de hábitos no vestir, comer, agir com a família, comportamentos, etc.
No comer é usada à técnica do jejum prolongado, no qual se propicia uma falta de nutrientes ao cérebro que estava acostumado com a ingestão comum e agora fica lento, favorecendo a aceitação de sugestões e melhorando a imaginação.
No vestir e nos comportamentos obrigam-se as pessoas a usar determinadas roupas, pinturas, cortes de cabelo, amuletos e entoar mantras e cânticos que favorecer a sensação de incomum na sociedade (não ser do “mundo”), para levar a uma despersonalização por submissão e aceitação.
No familiar e social, em muitas seitas de origem hinduísta, tiram-se os adeptos de seu núcleo familiar, isolando-os de todo vínculo afetivo e os deixando com uma sensação de fragilidade e carência, que só serão preenchidas pela “nova família”. Desta forma, o guru substitui os pais e os membros da seita são chamados de irmãos.
5 – Obediência
A obediência plena e reiterada é um meio extremamente propício para se iniciar um processo de alienação, de desapropriação de si mesmo e de sacrifício da própria identidade. Obedecer e servir ao Pastor reiteradamente, nem que seja encenando o que ele sugere, desloca o foco e a percepção na direção da vontade dele. Passa-se a perceber o mundo e a si mesmo como o Pastor percebe, enfim, ficando totalmente dominado e sugestionável.

DEUS MUDOU MINHA VIDA E CURAS PELA FÉ
Nossa sociedade está acostumada com um médico que, de cada dez pessoas, curou nove, já que “estudou para isto” e esta seria sua obrigação. Contudo, se um curandeiro, diante de cem pessoas que visitam seu templo, “cura” apenas cinco, o povo associa ao milagre de alguma entidade.
O filósofo Giordano Bruno manifestou isto bem numa frase: “consegue mais o bruxo pela fé, que o médico com a verdade”.
Por diversas vezes ouvi relatos de que Deus mudou uma vida. Pessoas que alteraram seus hábitos, comportamento e padrão de vida quando conheceram a Jesus Cristo. Em meu livro, citei estudos que comprovaram que nossas ações são decididas apenas 5% com o consciente, sendo os outros 95% determinados inconscientemente. O consciente não se sente confortável com mudanças, mesmo que sejam de nosso interesse. Sua resposta à mudança de comportamento é rígida e unidimensional.  Neurologicamente, quase todas as mudanças de comportamento e reformulação de hábitos e padrões de vida começam e são controladas por nosso inconsciente.  Para mudar o comportamento de forma efetiva é necessário enviar informações diretamente ao inconsciente. Para alterar de forma eficaz antigos padrões de comportamento,  a informação deve ser diretamente indireta, mas não manipulativa, e ter a intenção apenas de informar, acrescentando novas informações às antigas. Erickson dizia que não é possível  instruir o inconsciente de forma consciente e que sugestões autoritárias enfrentariam resistência.  O inconsciente responde a aberturas, oportunidades, metáforas, símbolos e contradições. A  sugestão hipnótica eficaz deve, então,  ser “ardilosamente vaga”, deixando espaço para o sujeito preencher as lacunas com seu próprio entendimento inconsciente – mesmo que não consiga entender, de maneira  consciente,  o que está  acontecendo. As transformações ocorridas em cultos ao sobrenatural dão-se pelo inconsciente sugestionado, mas as pessoas associarão tais mudanças à entidade que lhes é comum, enquanto todas as mudanças evoluem a partir de sua própria vontade inconsciente.
Por fim, a hipnose, a meditação, as orações, entre outros de mesma espécie, também influenciam a cura pela fé ou pelo otimismo, também conhecidas como efeito placebo (crença + expectativa que geram aumento do sistema imunológico e colaboram com a cura). Quem de nós nunca assistiu a programas religiosos demonstrando pessoas que sentiam dor e pararam de sentir durante o culto? Os transes podem provocar um extremo relaxamento e isso diminui a dor por dois caminhos:
  1. Crescem os níveis do neurotransmissor serotonina, qual vai se concentrar nas áreas cerebrais encarregadas de processar as mensagens químicas de dor, atenuando a sua intensidade. Ademais, diminui o cortisol, hormônio do estresse, que poderia intensificar os sinais dolorosos por nervos espalhados pelo corpo. Então, aquele sujeito que parou de sentir dor durante o culto, volta a sentir dor mais tarde ou deixa de sentir se a causa da dor fosse psicossomática.
  1. O transe ainda estimula a produção de moléculas chamadas de moduladores imunológicos que, feito chaves, ligam-se às células de defesa, regulando a sua ação. Assim, evitam que as defesas do organismo ataquem tecidos do próprio corpo. As células imunológicas do sangue tornam-se mais eficientes sem o “freio” do cortisol, o que explica o transe ajudando no tratamento de sujeitos imunodeprimidos.

COMO A HIPNOSE CHEGOU NA RELIGIÃO?
Antes de Franz Anton Mesmer (1734-1815), pai da hipnose moderna, os estados de transe em seus modos de indução estavam relegados ao plano do sagrado, do sobrenatural. Antes do advento da Medicina, como um corpo especifico e privilegiado de conhecimentos e práticas cientificas para a produção ou restabelecimento da saúde, a cura era um processo que estava sempre ligado ao sobrenatural e que passava, invariavelmente, pela religião. Foi Mesmer quem conduziu a prática hipnótica do campo religioso para o campo médico. Hoje o campo da ciência já conhece os variados efeitos de um transe hipnótico e como gerá-los.

Texto de LUCAS BELARMINO

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